(Víctor Lemes)
Me fizeram essa pergunta essa semana: por que o homem sente necessidade de falar uma língua?
Para respondê-la, a meu modo, é preciso discutir várias teorias. A começar: não vejo diferença entre as línguas humanas e as línguais dos outros animais. Afinal, quem pode julgar e afirmar que passarinho não fala? Essa ideia limitada e atrasada do humano achar que tudo aquilo que ele não vê ou não entende, por lógica consequência, não existe. (Vários Tomés por aí.) Daí surgem as incógnitas como aquela do início... As formigas se comunicam utilizando alguma forma de linguagem mental, talvez. Ou mesmo sonora, porém em frequências que nossos aparatos eletrônicas, ou melhor, nossa dimensão não nos permitem ouvi-los. Por qual razão o homem tem que se auto-afirmar o superior em tudo, e além do mais, criar uma definição de "superioridade" que somente existe nos paradigmas inúteis dele? Quanta perda de tempo, supondo que este existisse.
Com a explicação do primeiro ponto citado no parágrafo anterior, faço cair por terra parte da pergunta original, e atualizo-a para: por que sentimos a necessidade de falar? Para isso, entro em outro ponto crucial da vida do homem: sua origem. Diz-se que "um olhar vale mais que mil palavras", e esta expressão está corretíssima, pois, em teoria, o humano não precisava falar nada! Que atraso é falar o que pensa, quando nós poderíamos ter continuado certo, e apenas pensar para transferir nossos sentimentos e experiências! Tem gente que consegue ler nossos olhares, nossos gestos corporais, e nossa alma, apenas nos olhando. Sim, elas existem. Não são ficção, até porque ficção nem sequer existe. E por que elas conseguem? Porque isso já vem de fábrica! O problema é que o humano não lê os manuais ao utilizar os aparelhos desde a primeira vez.
Pense nisso: quantas vezes você quis traduzir em palavras aquela sensação inexplicável, que as outras pessoas descrevem como "felicidade" mas você sabe que essa palavra não é a melhor... daí você pensa em escolher "alegria", porém também acha uma definição fraquinha para aquilo que sente... pensa, pensa, pensa, e nada lhe vem a cabeça... Sabe por que acontece isso? Porque você busca definir algo da sua co-criação, e por conseguinte, infinito! Não há meios de limitar (usando uma língua) o ilimitado (seus pensamentos e experiências, em suma, sua vida). O único jeito de expressar o que sente, utilizando aquilo que tem como ferramenta natural: seu corpo. Sorria, levante os braços, agarre alguém, chacoalhe essa pessoa, abrace-a, beije-a, toque sua mão, grite, gargalhe, e até chore. E também faça todo o resto para o qual não possuo palavras para descrevê-los. Esta será sua única forma essencial de traduzir o que sente.
A invenção de qualquer língua falada em oposição à língua do pensamento foi apenas para limitar o humano. Desse modo, te ensinam uma porrada de palavras que descrevem diversas coisas já existentes ou que seguem determinados paradigmas, e inventam dicionários lhe dizendo que tudo que você precisa para falar ou se comunicar está lá. Todavia, se uma criança quisesse inventar algo novo, e dá-lo algum nome, lhe dirão que não pode. Não pode sair do sistema de palavras. Será inútil você querer inventar algo novo, porque o progresso não é bem-vindo na ordem. As línguas só servem para atrasar o homem! Quantas vezes você explicou uma coisa para uma pessoa, e esta entendeu completamente diferente? Olhe só a contradição e os conflitos que geram a falta de comunicação coesa e coerente, dois patamares básicos de qualquer língua falada ou escrita!
E com esse outro argumento, reconstruo novamente a pergunta original: por que a necessidade de uma língua? Principalmente nos dias atuais, com o advento da internet, tudo se escreve. A língua escrita é amplamente utilizada, até mais que a língua falada. E daí surgem diversos conflitos, entre eles: o vício de utilizar o jeito que falamos, e escrever do mesmo jeito "errado" em situações que espera-se a "norma culta", ou seja, "correta"; ou o que me ocorre diariamente: o fato de eu não poder traduzir minha ironia ou sarcasmo para a língua escrita, pois se escrever utilizando reticências ou qualquer outra ferramenta de discurso, acontecerá assim: eu escrevi de um jeito, lerão de outro jeito. Daí a magia da ironia defenestresse do meu quarto. E problemas chegam a mim, ainda que nem sequer quisesse tê-los.
Sou a contradição em pessoa: formado em Letras, professor de inglês; discutindo a necessidade de uma língua, seja ela materna ou estrangeira. E para melhorar (ou piorar?), sonhando no dia em que não precisaremos abrir mais a boca, apenas o coração.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
O porquê que o homem fala
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