Olá, como vai?
Meu nome é Víctor
Lemes, e esta será a segunda parte de uma proposta angustiante que
comecei a escrever em novembro
de 2010. Sete anos se passaram desde a última vez que escrevi
sobre algo parecido, desde então, do mesmo modo que iniciei a
primeira parte, digo o mesmo sobre o que vier nos próximos
parágrafos: são todos baseados em experiências pessoais, e
leituras diversas de livros que cruzaram meu caminho nesses sete
anos, de filmes e documentários que assisti, e de histórias que
ouvi e vivi. Devo também salientar que poderão haver argumentos
contrários ou adversos à primeira parte, pois cresci em muitos
sentidos, e há coisas que não concordo mais comigo mesmo de sete
anos atrás.
A minha proposta
angustiante vinha com um objetivo de trazer ao mundo uma visão de
liberdade animal por meio da liberdade humana primeiro. E eu, aos
meus vinte e um anos, propus o que Galeano diria ser uma utopia.
Propus que criássemos uma sociedade sem dinheiro, que não houvesse
preconceitos, e diversas outras coisas, mas eu só joguei ao vento
meus desejos egoístas de como o mundo deveria ser ou ter sido, ao
meu gosto. A solução, hoje aos meus quase vinte e oito anos, seria
muito mais simples de se conseguir. Embora, tenha sido difícil
conseguir.
Hoje, parto do
princípio de que tudo está conectado. Tudo tem um propósito maior,
e há coisas que não compreendo ainda o porquê, mas sinto que têm
um objetivo positivo. Como Gandhi dizia, por mais que haja os
inimigos, por mais que a maldade prevaleça centenas de anos, um dia,
todos caem. Nada que é negativo dura para sempre. E também devo
dizer que nada é imutável. Tudo caminha para cima, mesmo que pareça
que andamos para trás. Há quem afirme que a humanidade tem andado
para trás, mas eu prefiro pensar que apenas paramos. E estamos
parados ou caminhando com passos de formiga sem vontade, há alguns
mil anos…
Toda forma de
escravidão e preconceito gerará escravidão e preconceito. Tolstói
nunca esteve tão certo, quando disse que enquanto houver os
matadouros, haverá campos de batalha. Assim como se ainda houver
quem não goste ou odeie o Corinthians, o Palmeiras, o Botafogo, não
poderá cobrar amor daqueles que lhe julgam os outros interesses,
sejam eles sua opção sexual, seu gênero, sua cor, sua religião,
seu nome. Hoje em dia, não posso cair na hipocrisia de dizer que não
mato animais, logo eu, um vegetariano, pois isso seria uma mentira. O
que posso dizer é que eu tenho consciência das minhas escolhas, e
eu sei das consequências que isto me trará, e o quanto de
sofrimento que posso poupar dos meus irmãos.
Não posso, no
entanto, me calar diante das injustiças que aparecem, sejam elas
sobre o direito dos animais, ou entre os humanos (que para mim, são
a mesma coisa). O que é preciso fazer então? Primeiro, é preciso
entender que você não é melhor que ninguém, e nem precisa ser,
como eles (os que dominam o mundo) querem que você pense assim. Não
é necessário ser alguém, não é necessário que possua um diploma
universitário, um doutorado, um carro do ano, uma casa própria, uma
família sua e filhos, ter feito intercâmbio no Canadá, ou o que
mais que seja, para que você seja feliz, ou seja alguém. Gosto do
que Osho diz: “você já é aquilo que quer se tornar.”
Realmente, já somos tudo aquilo que precisamos ser, a questão é só
dominar o nosso ego, e aceitar a sua verdade. Questione tudo e todos.
Encontre suas respostas. Molde sua realidade de acordo com que
acredita. E consiga dormir em paz, todos os dias. Coisas simples e
coisas complicadas de se fazer.
Na primeira parte,
sugeri uma sociedade totalmente oposta, utópica, do que vemos hoje.
Após ler Chomsky, percebo que não poderíamos destruir todas as
conquistas que alcançamos nas sociedades democráticas que temos
hoje. Seria um tiro no pé gigantesco, pois, da maneira que eu
entendo, as pessoas ainda não estão prontas para não ter líderes.
Elas ainda não sabem conviver com o poder que possuem, como Osho
costumava dizer, somos todos deuses. Creio que Noam Chomsky não
aprovaria minhas analogias de seus argumentos com Osho, mas, como
disse, tudo está conectado.
A única maneira que
vejo como solução para o que me angustiava é a educação das
pessoas. É preciso uma reforma na educação a nível pessoal e
individual, de cada ser humano na Terra, para que saibam quem são, e
saibam quanto eles podem ser livres, e o quanto são imortais. É
preciso educar as pessoas sobre a morte, sobre a vida, sobre a fé
(que nada tem a ver com ser religioso), sobre o medo. A ignorância é
vizinha da maldade, como dizia Renato Russo. É preciso que haja
pessoas mais humanas, no sentido de que sabem exatamente como agem,
como pensam, quais serão seus atos e suas consequências. Educar a
sentir. Enquanto não houver uma revolução na educação, não
poderemos cobrar nada das gerações futuras.
Creio eu que um dia
há de ter uma terceira parte para esta proposta, Mas até lá,
espero que consiga entender que você não é diferente do seu
parceiro, dos seus pais, dos seus candidatos, dos seus animais
domésticos, dos animais que paga alguém para matar para comê-los…
Não importa que cor seja sua pele, que raça eles dizem que você é,
que opção sexual tenha… Qualquer besteira que cataloguem você,
lembre-se: você não é o que eles dizem que seja. Você é único,
não há e nunca terá alguém idêntico a você, em toda a
existência.
Eu não sou homem,
nem sou mulher. Não sou heterossexual ou homossexual. Não sou
moreno nem caucasiano. Não sou jovem demais ou velho demais. Serei
apenas o rótulo que eu quiser me dar, se assim me for confortável.
Para ser sincero, eu ainda não sei quem sou, mas estamos aí na
atividade, para descobrir. Espero que um dia possamos conversar mais.
Tenha uma boa sorte.